Terapia online: o tratamento em-linha em Psicanálise
O avanço da tecnologia e do mundo digital tem transformado o funcionamento das pessoas e a forma como se relacionam. O atendimento online em Psicologia já era regulamentado antes mesmo da pandemia do covid19, porém cresceu em ampla dimensão a partir deste período e fortaleceu a discussão e prática da Psicanálise no atendimento online.
Pitliuk (2020) propõe o termo de atendimento “em-linha” ao se referir ao atendimento online e reflete sobre o lugar do atendimento remoto para além dos argumentos da distância geográfica, dificuldade de deslocamento em grandes cidades, mudança de cidade, agendas sobrecarregadas etc. Estes são elementos concretos cada vez mais atuais que incentivam o atendimento online, ao mesmo tempo que é papel da Psicanálise questionar esse funcionamento acelerado de uma sociedade que cada vez mais produz casos de ansiedade e depressão, especialmente.
Porém, a reflexão central ao pensar o que justifica a clínica em-linha é outra. Torna-se importante ressaltar que a palavra “em linha” faz lembrar outras palavras: cordão, ligação, fio, conexão (PITLIUK, 2020).
Podemos pensar que essas palavras remetem ao essencial para sustentar a terapia online ou em linha, a capacidade de presença do analista/terapeuta, de ser tocado e se deixar tocar por cada encontro e a construção de um vínculo de confiança. A terapia online em psicanálise se justifica pela prática clínica ao manter a mesma técnica baseada nos fundamentos teóricos psicanalíticos, ou seja, a regra da associação livre de ideias, a abstinência, a neutralidade e a atenção flutuante.
Ainda que geralmente o ambiente físico de um consultório seja acolhedor e, em muitos casos, favoreça a presença pela sensorialidade física/corporal, os fundamentos éticos e técnicos acima citados não são condicionados ao ambiente físico ou atendimento presencial apenas pela concretude das paredes ou móveis de uma sala.
Segundo Figueiredo (2020), é o enquadre interno, ou seja, a disposição da mente do analista a sua principal ferramenta de trabalho que funcionará como um setting de sustentação para uma boa escuta analítica.
O preparo da mente do analista para essa condição faz parte de sua formação como profissional, mas esse enquadre interno também só poderá funcionar num ambiente físico de privacidade, seja ele no atendimento presencial ou online.
Sabemos que da parte do analista, o sigilo é um princípio ético que deve ser mantido independente do ambiente de atendimento, seja ele remoto ou presencial. Já do lado do paciente, também são necessários cuidados com o ambiente onde a ligação será feita. Diante de nossas experiências e de um crescente número de analistas que realizam atendimento em-linha, observamos que a modalidade online se faz possível e potente de ser realizada em sua essência.
A indicação para o tratamento psicanalítico online irá variar de acordo com a complexidade de cada caso – para além do quadro ou sintomatologia. Cabe a cada dupla paciente-terapeuta avaliar em conjunto a condição de construir um cordão de confiança e conexão.
Nessa construção do trabalho em linha da dupla paciente-terapeuta, a história de vida de cada paciente aparecerá de forma atualizada e os motivos conscientes e inconscientes que o levaram pela busca do tratamento atual poderão ser ampliados.
Referências bibliográficas:
FIGUEIREDO, Luís Claudio. A virtualidade do dispositivo de trabalho psicanalítico e o atendimento remoto: uma reflexão em três partes. Cad. psicanal., Rio de Jeneiro , v. 42,
n. 42, p. 61-80, jun. 2020 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-62952020000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 23 jul. 2024.
PITLIUK, Lia. Sustentar uma clínica psicanalítica em linha (online)? Ter remoto: Pensamentos em tempos pandêmicos, ano XXXII, Revista Percurso, 2020. Disponível em: https://percurso.openjournalsolutions.com.br/index.php/ojs/article/view/86/85
Texto elaborado por:
Pérola Lozano T. de Carvalho – Psicóloga
Daniele Muzaiel Gimenez – Psicóloga