Um Estranho Invisível: Emoções e Isolamento Social

Um Estranho Invisível: Emoções e Isolamento Social

Daniele M Gimenez – psicóloga clínica e psicanalista

Há um estranho invisível que não ocupa apenas as ruas das nossas cidades, mas também nos preOcupa às moradas internas. Ele nos habita a cada qual de forma subjetiva e singular despertando nossos sentimentos, desde o medo da morte de um ente querido até o prazer de uma criança, por exemplo, em conviver por mais tempo com seus pais em casa.
Sentimentos como medo, solidão, tédio, ansiedade, saudade e, até mesmo, alívio são comumente relatados em tempos de COVID-19.
Ainda que presentes nas diversas singularidades simbólicas, a angústia nos inquieta, mas é também o sentimento de esperança que nos movimenta coletivamente e nos chama a cuidarmos uns dos outros e desse ”estranho” que habita cada um de nós no todo.
Aquela velha segurança na rotina da “vida passada” perdeu rapidamente seu sentido, ficamos sem saber sobre o ”Bê a Bá” do cotidiano, sobre o tempo, o tempo da espera e o que vem depois desse tempo. E agora? Quanto tempo isso irá durar? Como viveremos após o coronavírus?
Não sabemos. Fomos interrompidos.
Mas não saber o que será de nós, da humanidade, não nos torna menos humanos agora ou ignorantes no nosso viver subjetivo e, quiçá, criativo.
O fato é que estamos vivos e continuamos livres para visitarmos as nossas novas e antigas dores, assim como nossos desejos, prazeres, silêncios e inquietações. Essa pode não ser a boa notícia tão esperada, ainda nos faltam muitas respostas. Mas quando não nos faltou algo?
Talvez no nosso íntimo saibamos que essa também é uma condição humana, viver na incompletude e, nem por isso, perdemos as esperanças.
Que tempo futuro é esse que buscamos alcançar no presente? Apenas a contemplação do passado também não nos estaria paralisando?
Será que esse tempo não seria também o tempo de re-significar, ainda que com nossas faltas e falhas humanas?
Fato é que enquanto estivermos vivos será a nossa morada emocional e subjetiva que continuará sustentando cada uma de nossas experiências. E é apenas do refúgio dessa morada que podemos (re)construir e sustentar um lar psiquicamente mais seguro, autêntico e criativo.
O isolamento social se faz necessário para nos proteger uns aos outros e assim seguirmos juntos, dia após dia, um dia de cada vez.

Texto construído de forma colaborativa a partir das reflexões com colegas, amigos, familiares, analista e da escuta clínica, todos vivenciando o mesmo momento ao mesmo tempo.

Daniele M. Gimenez

Atendimento a crianças, adolescentes e adultos. Psicodiagnóstico infantil e orientação aos pais.

Atendimento online e presencial.